2 de outubro de 2012

cansaço.

    
de tão cansado, se rende ao embalo, carece de colo, o trato desfez. pôs-se calado, o suave miado, gemido coberto de insensatez. e atormentado, sabe que o lado do certo não vai no caminho que o errado fez. vai-se guiando dos passos traçados, olha, acabado, o passar do mês. mostra, aflito, o medo borrado, molha o teclado de choro, talvez. a folha amassada, a meia rasgada, saudade que mata um pouco por vez. o quadro pintado, a  carta, o retrato, o grito abafado do amor cortês. muda a postura, acaba a fissura, passa a catraca às quinze pras seis. meio intrigado, deita suado, sonha acordado e apaga de vez.

texto e foto por: Lorena Caldas

25 de junho de 2012

susto.

   
e aquela palavra que não falei, me corroendo os ouvidos surdos de pensar demais. passei do meu limite. atravessamos as fronteiras do que achávamos impossível. nosso caminho calmo, contente. me contento. carente. pensamento jorrando saudade. desespero. te quero por perto. certo que o incerto nos vai abrir as portas. distância. inevitável a angústia de pensar em sentir a tortura de achar que podia mudar o passado do ontem. desejo. pode dormir. o susto passou. copo com água na cabeceira da cama. luz ligada no fundo do quarto. alívio. te quero por perto, aberto. te ver. te conhecer. merecer. aflita, me aperto no aperto do peito. sua foto no canto da cama. adormeço a chorar. mas o pior já passou.

texto e foto por: Lorena Caldas

8 de junho de 2011

conjugações.

 
e eu, boba, bebia doses de ingenuidade enquanto sonhava acordada. mania torturante, essa minha, de me apegar tão facilmente. os sonhos trancados no travesseiro - aquele ali mesmo, com a fronha amarrotada. disfarçava, com plural, essa minha singularidade. os músculos que se exercitavam num sorriso, hoje seguram os gritos assustados de surpresa e decepção. não vejo mais aqueles momentos, que eu chamava de esperança, sentados na cadeira ao lado. me dei conta de que te esquecer e seguir em frente não era mais uma opção - dentre várias outras. cá entre nós, obrigação nunca foi meu idioma preferido. e essa tal de 'hora certa' que não chega? presa n'um engarrafamento de ilusões. vi que a vida continua, sempre gritando suas conjugações. aprendi, na prática, que viver é um verbo intransitivo, bobeira minha esperar por complementos.

texto por: Lorena Caldas

29 de abril de 2011

saudade.

saudade de me perder nas cordas do seu violão, da sua voz amaciando meu ouvido. saudade da nossa música, do nosso momento. da sua mão na minha, prometendo o infinito. do barulho do silêncio, umedecendo meu rosto de emoção. oito letras, três sílabas, incontáveis lembranças. saudade. quem diria que eu me camuflaria num sorriso. que eu esconderia minhas lágrimas. as lágrimas da minha fraqueza disfarçada de orgulho. as lágrimas que um dia você secou com um beijo inesperado. e assim eu sigo em frente. mesmo assim. procurando ainda vestígios de você no caminho de volta pra casa. querendo um certo par de pegadas ao lado das minhas. querendo não ter a certeza de que não vou encontrá-las. sabendo que tudo que você deixou foram adesivos dessa tal de saudade, colados na minha memória - que por mais que eu quisesse, não falha nessas horas.

texto e foto por: Lorena Caldas

18 de março de 2011

despedida.

a vontade passa e a sombra de um vazio insano me domina. mais uma taça de vinho e uma porção de você. essa embriaguez sempre fazendo parte dos meus momentos mais sóbrios. olho uma útlima vez. sua foto meio amassada, úmida de lágrimas cuspidas pelas máscaras que você pintava com cores de paixão. pode entrar. vem buscar o que você esqueceu comigo. abre essa porta e leva o cheiro de disfarce que ficou grampeado no meu quarto. me atrasei pro chá das cinco procurando minha identidade, o tal do ''eu'' em mim. acendi o cigarro que você largou na cabeceira da cama. e toda essa fumaça levando o que sobrou dos pedaços da minha verdade. mais um gole, última tragada. fecho a porta, apago a luz. talvez eu não me importe mais de ser a última a se retirar.

texto e foto por: Lorena Caldas

20 de outubro de 2010

janela.


tudo não passava de um mero jogo, um quebra-cabeça desmontado. mas ela não sabia jogar. as peças pareciam não se encaixar mesmo as figuras sendo compatíveis. e depois de muito esforço, a desistência tomou conta da vontade de continuar, roubou suas esperanças, sequestrou seu singelo sorriso de algodão. uma lágrima atravessou-lhe o rosto, desfilando, exibindo sua vitória enquanto ela se encostava decepcionada no colo aconchegante de seu travesseiro. tão grande era sua inconformação que a pequena garota mal sentia as alfinetadas dadas por cada gotinha que se formava em seus olhos verdes - de uma falha esperança. de repente, a menina, cujas mãozinhas secavam as bochechas úmidas, avistara o ser alado que tentava, incessantemente, atravessar sua janela entreaberta. ficara por um indeterminado espaço de tempo observando o passarinho. a vontade de ajudar gritava a todo momento, mas ela permanecia inerte, somente a observar. e sem um instante sequer de fraqueza, o envolvente beija-flor era capaz de sobrevoar, não só seus pensamentos, mas agora também seus móveis e objetos espalhados pelo chão do quarto. a ave dera um sentido inexplicável ao jogo que tentara brincar minutos antes. ela olhava o quebra-cabeça e não conseguia entender para onde teria ido toda aquela complexidade. ainda na compania de seu encorajador, reconstruindo a imagem - que devolvia, aos poucos, o mais lindo dos sorrisos-, ela encontrara a peça que tanto procurava: sua força de vontade.

texto e foto por: Lorena Caldas

6 de setembro de 2010

construção.

e por um breve instante - que mudaria sua vida-, ela resolvera olhar para trás. o passado - a pouco, nomeado presente - formava nada além de meras recordações rasgadas, fotos embaçadas da construção do que chamava de futuro. andou lentamente - talvez pelo medo de remexer as lembranças esquecidas - e fora catando, pouco a pouco, os destroços do que restou de sua obra - que, nem com todos os remendos e falhas, desabou. e enquanto o passado de daqui a pouco se transformava em presente e criava uma nova página a ser chamada de futuro, ela se vira para a frente e analisa o tanto que ainda falta construir.

texto e foto por: Lorena Caldas