20 de outubro de 2010

janela.


tudo não passava de um mero jogo, um quebra-cabeça desmontado. mas ela não sabia jogar. as peças pareciam não se encaixar mesmo as figuras sendo compatíveis. e depois de muito esforço, a desistência tomou conta da vontade de continuar, roubou suas esperanças, sequestrou seu singelo sorriso de algodão. uma lágrima atravessou-lhe o rosto, desfilando, exibindo sua vitória enquanto ela se encostava decepcionada no colo aconchegante de seu travesseiro. tão grande era sua inconformação que a pequena garota mal sentia as alfinetadas dadas por cada gotinha que se formava em seus olhos verdes - de uma falha esperança. de repente, a menina, cujas mãozinhas secavam as bochechas úmidas, avistara o ser alado que tentava, incessantemente, atravessar sua janela entreaberta. ficara por um indeterminado espaço de tempo observando o passarinho. a vontade de ajudar gritava a todo momento, mas ela permanecia inerte, somente a observar. e sem um instante sequer de fraqueza, o envolvente beija-flor era capaz de sobrevoar, não só seus pensamentos, mas agora também seus móveis e objetos espalhados pelo chão do quarto. a ave dera um sentido inexplicável ao jogo que tentara brincar minutos antes. ela olhava o quebra-cabeça e não conseguia entender para onde teria ido toda aquela complexidade. ainda na compania de seu encorajador, reconstruindo a imagem - que devolvia, aos poucos, o mais lindo dos sorrisos-, ela encontrara a peça que tanto procurava: sua força de vontade.

texto e foto por: Lorena Caldas