tudo não passava de um mero jogo, um quebra-cabeça desmontado. mas ela não sabia jogar.
as peças pareciam não se encaixar mesmo as figuras sendo compatíveis. e depois
de muito esforço, a desistência tomou conta da vontade de continuar, roubou
suas esperanças, sequestrou seu singelo sorriso de algodão. uma lágrima
atravessou-lhe o rosto, desfilando, exibindo sua vitória enquanto ela se
encostava decepcionada no colo aconchegante de seu travesseiro. tão grande era
sua inconformação que a pequena garota mal sentia as alfinetadas dadas por cada
gotinha que se formava em seus olhos verdes - de uma falha esperança. de
repente, a menina, cujas mãozinhas secavam as bochechas úmidas, avistara o ser
alado que tentava, incessantemente, atravessar sua janela entreaberta. ficara
por um indeterminado espaço de tempo observando o passarinho. a vontade de
ajudar gritava a todo momento, mas ela permanecia inerte, somente a observar. e
sem um instante sequer de fraqueza, o envolvente beija-flor era capaz de
sobrevoar, não só seus pensamentos, mas agora também seus móveis e objetos
espalhados pelo chão do quarto. a ave dera um sentido inexplicável ao jogo que
tentara brincar minutos antes. ela olhava o quebra-cabeça e não conseguia
entender para onde teria ido toda aquela complexidade. ainda na compania de seu
encorajador, reconstruindo a imagem - que devolvia, aos poucos, o mais lindo
dos sorrisos-, ela encontrara a peça que tanto procurava: sua força de vontade.
texto e foto por: Lorena Caldas